Feliz ano velho | OPINIÃO | VICTOR RUI DORES





Feliz ano velho



Ano novo, vida nova, vamos dizendo por estes dias com esperança no olhar. Mais um ano
que passou, mais um ano que começa. E não nos faltam resoluções para 2024. Dizemos que este ano é que vai ser. É desta que vamos deixar de fumar. É desta que vamos perder aqueles quilinhos a mais. É desta que vamos cortar nas calorias e fazer mais exercício físico. É desta que vamos remodelar a nossa casa. É desta que nos vamos comportar como deve ser. E é desta que o Sporting vai ser campeão…

2023 não deixa saudades, marcado que ficou por duas guerras estúpidas e absolutamente desnecessárias, por várias crises económicas e financeiras, por uma inflação galopante e, cá por estas beiradas, por dois governos que deram uma queda e foram ao chão…

O terrorismo internacional, a intolerância religiosa e os fundamentalismos continuam a não dar tréguas. E, em muitos países, assistimos à deriva da democracia e a valores do humanismo que se esboroam e vão dando lugar a populismos desvairados. Os Putins, os Erdogans, os Lukashenkos, os Órbans, os Modis e os Netanyahus eternizam-se no poder… E, espreitando ao virar da esquina à espera dos deslizes da democracia e prontinhos para tomar o poder de assalto, estão os Trumps, os Bolsonaros, os Salvinis, as Le Pens e os Venturas desta vida…

Avizinham-se tempos difíceis e envoltos em perigos assombrosos. As guerras na Ucrânia e
Israel-Hamas estão para durar… Os esforços diplomáticos para pôr fim a estes dois conflitos armados têm sido infrutíferos, o cessar-fogo não acontece e a paz tarda em chegar. Indignados e impotentes, vamos assistindo, diariamente na televisão, à infame destruição de zonas habitacionais num dramático requiem de violência, sofrimento e morte. Massacres contínuos e continuados. Atrocidades brutais contra civis. Um número devastador de mortos, incluindo crianças em condições miseráveis. E tudo isto só pode ter um nome: genocídio.

Perante esta banalização do mal, e num tempo marcado por muitos ruídos e dissonâncias, eu, que sou um pessimista com esperança, vou perdendo toda e qualquer ilusão. O mundo precisa de paz. E Portugal precisa urgentemente de um acordo de regime em matéria de saúde, educação, justiça e segurança social.






E nos Açores? Em que beneficiamos ter 1.000 km de costa e um milhão de Km2 de Zona Económica Exclusiva? Do que nos tem servido produzirmos, nestas ilhas, 33% do leite e 50% do queijo a nível nacional? Estaremos condenados a que seja só o turismo a aguentar a nossa economia? E que dizer da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores que leva 14,5 milhões dos nossos impostos? Serão mesmo necessários todos aqueles 57 deputados? E, num país em que o Orçamento Geral do Estado destinado à cultura não ultrapassa 1%, por que carga de água andam os governos (os de lá e os de cá) a empurrar a cultura para as câmaras municipais que possuem orçamentos de mercearia e viraram agências de espetáculos? E desde quando animação é cultura? Como se já não bastasse sermos a Região mais pobre do país, dá que pensar o seguinte: nas últimas eleições, 7 em cada 10 açorianos não votaram…

Venham-me falar de cidadania ativa que eu vou ali e venho já.

Pensador livre e sem tutela, e porque não estou arregimentado a nenhum partido político, tenho cá para mim que, a haver mudança em 2024, ela será uma mudança do mesmo para o mesmo….



Victor Rui Dores


Post Scriptum: Para compensar o que acima deixei escrito, socorro-me do preceito helénico do belo e do bom. Verdadeiramente eu gosto do que é belo e do que é bom. Por isso envolvo-me na coisa artística, porque uma obra de arte, uma vez feita, constitui beleza objetiva, beleza acrescentada à que há no mundo. E porque tenho uma visão holística das coisas, recorro sempre a Fernando Pessoa, que há quase um século e numa altura em que ainda eram desconhecidos os conceitos da interculturalidade e da transversalidade do conhecimento, já dizia, através de Álvaro de Campos, que “o binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo”.









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