OPINIÃO: VICTOR RUI DORES | Três fífias linguísticas

 




Três fífias linguísticas

 

  Não sou linguista nem gramático, mas custa-me ver maltratada a língua portuguesa nos meios de comunicação social, e não só. São erros de ortografia e pontapés na sintaxe a rodos. As causas e consequências são muitas e, num país onde há mais telemóveis do que habitantes, basta ver o que se passa nas desvairadas redes sociais… Quem não lê, fala mal e escreve pior. E, já se sabe: a massificação do ensino e a subsequente baixa dos níveis de exigência que, não raro, toca as raias do facilitismo, deu no que deu…



Seguidor atento da televisão, da rádio e dos jornais, tenho vindo a colecionar fífias linguísticas, algumas das quais já aqui partilhei com os prezados leitores. Hoje apresento-vos mais três cornadas na língua de Camões, que se vai ouvindo na boca de gente de todas as fases etárias e graus académicos:

1. Duplos particípios passados

   Diz o locutor: “Muito obrigado por ter aceite o meu convite”. Erro de lesa-língua. A forma correta é: “Muito obrigado por ter aceitado o meu convite”.

“Ele tem ganho muito dinheiro”, quando o correto é: “Ele tem ganhado muito dinheiro”. (O dinheiro é que pode ser mal gasto)…

O mesmo se passa com os verbos empregar e matar. “A empresa tem empregue muitos jovens em busca do primeiro emprego”, quando lá devia estar tem empregado. “Os terroristas têm morto muitos civis”; têm matado é que está certo.

2. Comparação

Ouvi da boca de um famoso jogador de futebol. “Os treinadores estão hoje melhor preparados do que noutros tempos”. Erro crasso. “Os treinadores estão hoje mais bem preparados do que noutros tempos”. Assim é que é.

 3. Postura e atitude

Ponho as mãos à cabeça sempre que ouço a palavra postura, pois impera uma enorme confusão entre postura e atitude.

“Não gosto da postura deste governo”, disse recentemente um deputado da oposição da nossa praça. Supina asneira. Postura deve aqui ser substituído por atitude. E isto porque a semântica não engana e, em rigor, postura remete para:

a) deliberações camarárias;

 b) certa posição do corpo;

 c) os ovos que as galinhas põem durante um certo período.

A menos que, na frase acima referida, se esteja a confundir governo com galinheiro…

Voltarei à carga com mais deslizes gramaticais.

 

                                                                            Victor Rui Dores

 

 

 

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