Três fífias linguísticas
Não sou linguista nem gramático, mas custa-me ver maltratada a língua
portuguesa nos meios de comunicação social, e não só. São erros de ortografia e
pontapés na sintaxe a rodos. As causas e consequências são muitas e, num país
onde há mais telemóveis do que habitantes, basta ver o que se passa nas
desvairadas redes sociais… Quem não lê, fala mal e escreve pior. E, já se sabe:
a massificação do ensino e a subsequente baixa dos níveis de exigência que, não
raro, toca as raias do facilitismo, deu no que deu…
Seguidor atento da televisão, da
rádio e dos jornais, tenho vindo a colecionar fífias linguísticas, algumas das quais
já aqui partilhei com os prezados leitores. Hoje apresento-vos mais três
cornadas na língua de Camões, que se vai ouvindo na boca de gente de todas as
fases etárias e graus académicos:
1. Duplos particípios passados
Diz o locutor: “Muito obrigado por ter aceite o meu convite”.
Erro de lesa-língua. A forma correta é: “Muito obrigado por ter aceitado
o meu convite”.
“Ele tem ganho muito
dinheiro”, quando o correto é: “Ele tem ganhado muito dinheiro”. (O
dinheiro é que pode ser mal gasto)…
O mesmo se passa com os verbos empregar
e matar. “A empresa tem empregue muitos jovens em busca do
primeiro emprego”, quando lá devia estar tem empregado. “Os terroristas têm
morto muitos civis”; têm matado é que está certo.
2. Comparação
Ouvi da boca de um famoso jogador de
futebol. “Os treinadores estão hoje melhor preparados do que noutros
tempos”. Erro crasso. “Os treinadores estão hoje mais bem preparados do
que noutros tempos”. Assim é que é.
3. Postura e atitude
Ponho as mãos à cabeça sempre que
ouço a palavra postura, pois impera uma enorme confusão entre postura
e atitude.
“Não gosto da postura deste
governo”, disse recentemente um deputado da oposição da nossa praça. Supina
asneira. Postura deve aqui ser substituído por atitude. E isto
porque a semântica não engana e, em rigor, postura remete para:
a) deliberações
camarárias;
b) certa posição do corpo;
c) os ovos que as galinhas põem durante um
certo período.
A menos que, na frase acima referida,
se esteja a confundir governo com galinheiro…
Voltarei à carga com mais deslizes
gramaticais.
Victor Rui Dores
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