OPINIÃO: VICTOR RUI DORES | Das praxes académicas

  




Das praxes académicas



    As praxes académicas são tradições estudantis que visam a integração dos novos alunos (caloiros) na comunidade académica através de atividades, com uma participação livre e voluntária, não podendo nunca haver obrigatoriedade ou imposição. 

    Em recente viagem, dei comigo, em plena praça pública e no decorrer de uma noite escura, a um espetáculo degradante de uma dessas praxes. Jovens de capa e batina exerciam atos de puro sadismo sobre rapazes e raparigas, que se prestavam àquilo.

     Com palavrões ofensivos e insultos soezes, os ditos “praxistas” berravam com as pobres criaturas, obrigando-as a repetir frases parvas, a fazer flexões e a rastejar de cotovelos no chão. Quando tudo parecia terminado, mandavam fazer tudo de novo, com ameaças de severos castigos para os que desobedecessem.





     Este poder discricionário fez-me lembrar a gritaria de sargentos e oficiais da minha recruta em Tancos. Só que aqueles caloiros, resignados e reduzidos à condição de símios, não estavam na tropa nem se preparavam para a guerra.

   No fim daquele espetáculo ridículo, abeirei-me de um “praxista”, que estava visivelmente etilizado, e perguntei:

    - Meu caro amigo, não haverá aqui alguns excessos neste batismo universitário?

    Respondeu-me acintosamente:
    - Não, meu caro senhor, a gente faz isto é para integrar a malta...

    Retorqui:
    - Integrar? Humilhar a malta, é o que que vocês estão aqui a fazer!

     O “praxista” olhou-me de soslaio, virou-me as costas e foi beber mais cerveja.

    Entendamo-nos: nada tenho contra as praxes, desde que elas visem a integração dos estudantes e não a humilhação. E o que vi naquela praça foi tudo menos integração.
“Sic transit gloria mundi”.



                       Victor Rui Dores


Post Scriptum: Seria bom que, de uma vez por todas, não tivéssemos nem bebés nem criancinhas (pelo menos em idade inferior aos 5 anos) a assistir a espetáculos que manifestamente não são destinados a pequerruchos de peito… A coisa pode tornar-se um incómodo e um tormento para quem está em cima do palco e para quem está na assistência. 

Recentemente vivi, na pele de ator, uma situação dessas. À hora em que uma criancinha deveria estar na sua caminha a fazer “nem-nem”, lembrou-se ela (com a complacência da sua mamã) de, na plateia, competir comigo a gritar no meio do espetáculo, possivelmente a manifestar a sua liberdade de expressão... Convém lembrar que quem paga bilhete está ali para se divertir e não para sofrer meninos…       






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