Ai esta juventude…
É necessário que se diga porque é
indispensável que se saiba que temos, em Portugal, uma juventude que não lê e
pensa pouco. E quem não lê e pensa pouco dificilmente terá aquilo que mais
importa para uma verdadeira cidadania ativa: pensamento crítico.
Dito isto, e sem querer generalizar,
faz-me pena ver como hoje, nas cidades, muitos jovens vivem encarceradas em
apartamentos, sem horizontes, sem árvores, encolhidos na preguiça dos seus
quartos de cama, ociosos, sonolentos, indiferentes, arregimentados, passivos,
olhando a rua à distância das suas janelas e varandas… O tédio enfraquece-os. E
como fazem pouco exercício e abusam de junk
food, é notória a tendência que têm para engordar… Depois é necessário que
tudo ao seu redor seja muito fácil, muito claro e muito pronto; se assim não
for, hesitam, estacam, sucumbem.
Já em crianças eles eram indecisos e
irresolutos, sem iniciativa, sem determinação, sem vontade e sem interesse,
sempre dependentes dos pais de quem foram recebendo uma educação mimada e
amolecida... Não trazendo de casa mecanismos de autonomia, identidade e
individualidade, quando chegaram às escolas já eram “abebezados” e imaturos.
Hoje, na sua larga maioria, os jovens
só se interessam por smartphones e videojogos. Nos intervalos, lá vão
arranjando tempo para fazer os trabalhos de casa e estudar o q.b.… Quando se
portam mal, negam o que fazem. Aprendem desde muito cedo a mentir, como
mecanismo de defesa. Tornam-se miúdas e miúdos irritadiços e birrentos,
superprotegidos por mães e pais inseguros, que estão em início ou em fase de
consolidação de carreiras, com vidas muito atarefadas, o que lhes retira tempo
para um maior e melhor acompanhamento junto dos seus progenitores. Sentindo a
pressão do quotidiano, e temendo não estarem a cumprir integralmente o seu
papel de educadores, agarram-se ao único(a) filho(a) que têm e
infantilizam-no(a) para lá do natural.
De resto, deparamos hoje com este dado sociológico inapelável: as relações entre pais e filhos horizontalizaram-se, isto é, deixaram de ser tão hierárquicas, e muitos pais encontram sérias dificuldades em controlar os miúdos em casa. O ditado popular bem que avisa: “Casa de pais, escola de filhos”.
Depois temos as novas tecnologias da
informação e da comunicação que, tomando hoje conta das nossas vidas, vieram
baralhar as coisas. Assistimos, nas redes sociais, à legitimação do insulto, ao
triunfo da desinformação, das fake news e a toda uma avalanche de
parvoíces. Infelizmente é este mundo virtual que informa e enforma as nossas
crianças e os nossos jovens.
Não há muitos anos falava-se do
idealismo futurista da internet, mas esta tornou-se numa fonte de destruição e
receio. E, quando na cabeça de muita e desvairada gente, deixa de haver uma
distinção clara entre o que é verdadeiro e o que é falso, é obvio que estamos
perante uma séria ameaça à democracia.
Com a asneira que foi a Declaração de
Bolonha (que sempre me mereceu sérias dúvidas e severas críticas), os nossos
jovens licenciam-se aos 21 anos de idade, um ano depois são mestres e antes dos
30 já são doutores e chegam a juízes… O primado do económico sobre o pedagógico
deu nisto… Por isso, não se admirem com o estado (duvidoso) da nossa Educação,
da nossa Saúde ou da nossa Justiça... A verdade é que, na “austera, apagada e
vil tristeza” em que se tornou Portugal, temos o sistema que criámos. A escola reflete
necessariamente a sociedade que temos e que construímos. É esta a escola que
temos, não é outra. A sociedade que construímos é esta, não é a norueguesa, nem
a canadiana, nem a australiana…
Acima de
tudo têm-nos faltado pactos e compromissos educativos que nos libertem da
tensão do imediato, do ato eleitoral mais próximo e permitam conferir
continuidade e estabilidade às políticas estruturantes do nosso sistema de
ensino.
Victor Rui Dores


Comentários
Enviar um comentário