OPINIÃO: VICTOR RUI DORES | Da “Quinta do Martelo” e do turismo que se quer para os Açores

 




Da “Quinta do Martelo”

e do turismo que se quer para os Açores

 

         Em recente visita à ilha Terceira fui dar à “Quinta do Martelo”, localizada na agora vila de São Mateus. O seu proprietário é o incontornável Gilberto Vieira, que a ela se dedica de alma e coração vai para 40 anos.

            A “Quinta do Martelo” – nome que lhe advém de uma aldraba do século XVIII que ainda ornamenta o portão principal – é uma propriedade que conheceu o seu auge no século XIX, durante o ciclo da laranja. E foi a primeira unidade de turismo em espaço rural e de natureza nos Açores. Mais do que uma Quinta, este é um espaço de incalculável valor etnográfico, pois ali se respira uma ambiência rural genuinamente açoriana.

            As casas desta unidade turística combinam passado e presente com conforto: cultura e história; amor pela natureza e respeito pelo ambiente; amizade em mesa posta e hospitalidade da porta aberta e luz acesa.

            Com efeito, ali é reposto um ambiente autêntico, que vai da construção ao mobiliário, fruto de um trabalho de pesquisa e levantamento dos saberes tradicionais de arquitetura, decoração e adereços, passando pela gastronomia (a famosa alcatra), fainas rurais, artes e ofícios.




            A “Quinta do Martelo” cumpre determinados requisitos de sustentabilidade ambiental, daí os galardões que tem recebido a nível regional, nacional e internacional, o que não só dignifica o seu nome, mas, acima de tudo, promove os Açores e Portugal. Ainda bem recentemente esta unidade terceirense foi galardoada com o “International Sustainability Awards 2024”, o que significa que este empreendimento turístico está na lista dos “top 100 Sustainable Hotels & Resorts of the World 2024”. E isto para não falar do galardão “Green Key”, distinção internacional que ostenta há 18 anos consecutivos e que visa destacar as boas práticas ambientais, nomeadamente as energéticas e as de educação ambiental.  Ou do prémio nacional “Horta do Chef”, que distingue a produção própria, através da agricultura biológica de produtos alimentares, que são depois servidos às refeições.

            Atente-se neste dado inapelável: somos um destino de Natureza (mais ou menos intacta e ainda em estado mais ou menos puro), de tranquilidade e segurança, com um ambiente natural e único – para descansar, contemplar e conviver. Possuímos, nos Açores, um dos mais ricos ecossistemas do mundo. A nossa paisagem é única. Há que continuar a desenvolver um turismo sustentável e de qualidade. Atrair os turistas é importante, mas não é o suficiente. Há que tratar bem quem nos visita para que regressem satisfeitos aos seus países de origem e promovam, pelas redes sociais e por via oral, o que viram e sentiram por estas beiradas.

            Nesta matéria, não há verdadeiro turismo sem uma componente cultural. E isto porque, quem viaja, faz da viagem uma forma de procura e de descoberta. A “Quinta do Martelo” cumpre este objetivo cultural. E é o único lugar dos Açores onde podemos ver, recriadas, as primeiras habitações dos nossos primeiros povoadores. E que bom seria que ali se realizasse, periodicamente, um museu vivo com atores e figurantes a reconstituírem cenas do passado, possibilitando aos visitantes caminhar pela história dos Açores…

            Em tempo de globalização, massificação e de economia de escala, somos, nestas ilhas, um destino de valor acrescentado. Mas não nos podemos comparar com a Madeira que leva já dois séculos de turismo. Então já que não podemos ser maiores, temos de ser melhores. E para sermos melhores, temos de continuar a ser diferentes. E é precisamente nesta diferença que se inscreve a “Quinta do Martelo” e Gilberto Vieira – empresário pioneiro que vive em constate desassossego criativo.           

 

   Horta, 16/12/2024

      Victor Rui Dores





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