Da “Quinta do Martelo”
e do turismo que se quer para os
Açores
Em recente visita à ilha Terceira fui
dar à “Quinta do Martelo”, localizada na agora vila de São Mateus. O seu
proprietário é o incontornável Gilberto Vieira, que a ela se dedica de alma e coração
vai para 40 anos.
A “Quinta do
Martelo” – nome que lhe advém de uma aldraba do século XVIII que ainda
ornamenta o portão principal – é uma propriedade que conheceu o seu auge no
século XIX, durante o ciclo da laranja. E foi a primeira unidade de turismo em
espaço rural e de natureza nos Açores. Mais do que uma Quinta, este é um espaço
de incalculável valor etnográfico, pois ali se respira uma ambiência rural
genuinamente açoriana.
As casas
desta unidade turística combinam passado e presente com conforto: cultura e
história; amor pela natureza e respeito pelo ambiente; amizade em mesa posta e
hospitalidade da porta aberta e luz acesa.
Com efeito, ali é reposto um ambiente
autêntico, que vai da construção ao mobiliário, fruto de um trabalho de
pesquisa e levantamento dos saberes tradicionais de arquitetura, decoração e
adereços, passando pela gastronomia (a famosa alcatra), fainas rurais, artes e
ofícios.
A “Quinta do
Martelo” cumpre determinados requisitos de sustentabilidade ambiental, daí os
galardões que tem recebido a nível regional, nacional e internacional, o que não
só dignifica o seu nome, mas, acima de tudo, promove os Açores e Portugal. Ainda
bem recentemente esta unidade terceirense foi galardoada com o “International
Sustainability Awards 2024”, o que significa que este empreendimento
turístico está na lista dos “top 100 Sustainable Hotels & Resorts of the
World 2024”. E isto para não
falar do galardão “Green Key”, distinção internacional que ostenta há 18 anos
consecutivos e que visa destacar as boas práticas ambientais, nomeadamente as
energéticas e as de educação ambiental. Ou
do prémio nacional “Horta do Chef”, que distingue a produção própria, através
da agricultura biológica de produtos alimentares, que são depois servidos às
refeições.
Atente-se
neste dado inapelável: somos um destino de Natureza (mais ou menos intacta e
ainda em estado mais ou menos puro), de tranquilidade e segurança, com um
ambiente natural e único – para descansar, contemplar e conviver. Possuímos,
nos Açores, um dos mais ricos ecossistemas do mundo. A nossa paisagem é única. Há
que continuar a desenvolver um turismo sustentável e de qualidade. Atrair os
turistas é importante, mas não é o suficiente. Há que tratar bem quem nos
visita para que regressem satisfeitos aos seus países de origem e promovam,
pelas redes sociais e por via oral, o que viram e sentiram por estas beiradas.
Nesta
matéria, não há verdadeiro turismo sem uma componente cultural. E isto porque,
quem viaja, faz da viagem uma forma de procura e de descoberta. A “Quinta do
Martelo” cumpre este objetivo cultural. E é o único lugar dos Açores onde
podemos ver, recriadas, as primeiras habitações dos nossos primeiros
povoadores. E que bom seria que ali se realizasse, periodicamente, um museu
vivo com atores e figurantes a reconstituírem cenas do passado, possibilitando
aos visitantes caminhar pela história dos Açores…
Em tempo de
globalização, massificação e de economia de escala, somos, nestas ilhas, um
destino de valor acrescentado. Mas não nos podemos comparar com a Madeira que
leva já dois séculos de turismo. Então já que não podemos ser maiores, temos de
ser melhores. E para sermos melhores, temos de continuar a ser diferentes. E é
precisamente nesta diferença que se inscreve a “Quinta do Martelo” e Gilberto
Vieira – empresário pioneiro que vive em constate desassossego criativo.
Horta, 16/12/2024
Victor Rui Dores
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