Superstições náuticas
Fui criado com crenças piedosas, não
isentas de superstições, num tempo em que, por exemplo, nada sabíamos sobre
eletricidade atmosférica. Quando, por exemplo, trovejava, minha mãe cobria
preventivamente os espelhos lá de casa com cobertores. Depois mandava fechar
hermeticamente as janelas. Ao faiscar dos relâmpagos, ela bradava: “Santa
Clara!” Segundos depois estalava o trovão e era Santa Bárbara, Virgem e Mártir,
quem nos devia acudir.
(Hoje Santa Clara está associada a um
clube desportivo açoriano, e de Santa Bárbara só nos lembramos quando faz
trovões)…
Mas as
superstições, religiosas e profanas, continuam a existir. Na ilha do Faial são
as náuticas que predominam e têm maior expressão:
1. É por de mais conhecida, entre
nós, a superstição segundo a qual os velejadores que, em escala na Horta, não
deixarem uma pintura alusiva aos seus barcos nos muros da Marina, arriscam-se a
ter problemas na sua viagem de regresso.
2. Mudar o nome de um barco dá azar.
3. Causa infortúnio iniciar-se uma
viagem à sexta-feira, dia que, na tradição judaico-cristã, está ligado à morte
de Cristo.
4. Malas pretas ou sacolas pretas a
bordo trazem má sorte.
5. Dá azar entrar num barco com o pé
esquerdo.
6. Flores e plantas a bordo trazem má
sorte.
7. Coelhos a bordo dão desgraça. E
isto porque no tempo em que os barcos eram feitos de madeira, os coelhos roíam
o casco e o barco ia para o fundo. E quando não roíam o casco, roíam o cordame,
tornando impossível a tarefa de levantar velas.
8. Assobiar no mar traz tempestades.
9. Uma moeda
colocada debaixo do mastro assegura viagens boas e tranquilas.
10. Derramar
um pouco de vinho no deck antes de uma viagem é bom para apaziguar os deuses.
Vem desta superstição o costume de batizar os navios com uma garrafa de
champagne, arremessado à proa. E convém que a garrafa se parta contra o casco
das embarcações, o que, diz-se, não terá acontecido aos navios “Titanic” e
“Costa Concordia”…
11. Uma mulher nua a bordo acalma o mar (isto explica a
figura feminina desnudada à proa das embarcações).
12. A palavra “boa
sorte” nunca deverá ser dita dentro de uma embarcação, porque traz má sorte à
sua tripulação.
Rimou e… nada
disto é verdade.
Victor Rui Dores


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