O meu Texas Jack
Foi através da banda desenhada
(“histórias aos quadradinhos”, como então se dizia) que me iniciei na leitura. O
meu herói preferido era Texas Jack, a lendária figura do velho oeste americano,
o pistoleiro que montando o seu cavalo, por entre nuvens de poeira, sacava da
sua Winchester e dava cabo dos fora da lei....
Menino e moço, eu poupava dinheiro para
comprar, mensalmente e por 4 escudos na Loja do Grandela, os livros Texas
Jack (Série Heróis e Aventuras), de que ainda hoje guardo a coleção
inteira.
Era grande o meu fascínio por Texas
Jack. E lendo as suas aventuras, fiquei com uma ideia da América: uma
América de cowboys imaculados, elegantes e sorridentes, que laçavam reses e
partiam à desfilada... Uma América de caravanas, diligências e comboios a serem
assaltados por bandidos e outros malfeitores. Uma América de saloons onde havia
grandes confusões: murros, pancadaria, tiroteios, sangue… Uma América de
raptos, mortos e feridos, ululações e frechadas dos índios, tiros certeiros…
Como cenário de tudo isto, imaginava
uma América de florestas impenetráveis, de pradarias e rios caudalosos, de
lagos salgados, de montanhas rochosas, de caçadores de peles, de búfalos e
trilhos e mocassins silenciosos…
Era para mim um consolo a leitura dos
livros do Texas Jack (e também do Buffallo Bill), pois
contrastavam com os manuais da escola primária, muito pouco atraentes do ponto
de vista gráfico. E quando, anos mais tarde, li Júlio Verne, Emilio Salgari e
Robinson Crusuoe, já levava comigo lastro suficiente para entender todo aquele
maravilhoso mundo de aventuras.
Texas Jack, o herói e “rosto pálido”, era o bom;
o índio, “pele-vermelha”, o vilão. (Não sabíamos, então, que os índios haviam
sido dizimados pelos americanos, e desconhecíamos muitos outros contextos
históricos dos Sioux, Cheyennes ou Apaches. De resto, a
palavra genocídio não fazia ainda parte do nosso léxico).
Solidário e corajoso, Texas Jack,
o meu (mítico) herói, tinha aquele belo rosto graficamente desenhado e, para
mim, nada substituía a narrativa visual das suas ações. Eu entregava-me a uma
leitura lúdica e a uma experiência única, sentimentos muito diferentes dos que
resultavam da visualização dos westerns (“coboiadas”).
Prancha é prancha e película é
película. Nesta ordem de ideias, lembro-me da desilusão que constituiu para mim
ver o Tintin, o Astérix e o Obélix transpostos para os
ecrãs do cinema com atores de carne e osso. Não é a mesma coisa.
Por isso, no meu imaginário, Texas
Jack continua, graficamente através de vinhetas, balões, tiras e legendas,
a sacar da sua Winchester, a dar cabo dos fora da lei e a montar o seu
cavalo. Por entre nuvens de poeira.
Victor Rui Dores


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