OPINIÃO: VICTOR RUI DORES | O meu Texas Jack

 





O meu Texas Jack

 

Foi através da banda desenhada (“histórias aos quadradinhos”, como então se dizia) que me iniciei na leitura. O meu herói preferido era Texas Jack, a lendária figura do velho oeste americano, o pistoleiro que montando o seu cavalo, por entre nuvens de poeira, sacava da sua Winchester e dava cabo dos fora da lei....

 Menino e moço, eu poupava dinheiro para comprar, mensalmente e por 4 escudos na Loja do Grandela, os livros Texas Jack (Série Heróis e Aventuras), de que ainda hoje guardo a coleção inteira.

Era grande o meu fascínio por Texas Jack. E lendo as suas aventuras, fiquei com uma ideia da América: uma América de cowboys imaculados, elegantes e sorridentes, que laçavam reses e partiam à desfilada... Uma América de caravanas, diligências e comboios a serem assaltados por bandidos e outros malfeitores. Uma América de saloons onde havia grandes confusões: murros, pancadaria, tiroteios, sangue… Uma América de raptos, mortos e feridos, ululações e frechadas dos índios, tiros certeiros…

Como cenário de tudo isto, imaginava uma América de florestas impenetráveis, de pradarias e rios caudalosos, de lagos salgados, de montanhas rochosas, de caçadores de peles, de búfalos e trilhos e mocassins silenciosos…

Era para mim um consolo a leitura dos livros do Texas Jack (e também do Buffallo Bill), pois contrastavam com os manuais da escola primária, muito pouco atraentes do ponto de vista gráfico. E quando, anos mais tarde, li Júlio Verne, Emilio Salgari e Robinson Crusuoe, já levava comigo lastro suficiente para entender todo aquele maravilhoso mundo de aventuras.




Texas Jack, o herói e “rosto pálido”, era o bom; o índio, “pele-vermelha”, o vilão. (Não sabíamos, então, que os índios haviam sido dizimados pelos americanos, e desconhecíamos muitos outros contextos históricos dos Sioux, Cheyennes ou Apaches. De resto, a palavra genocídio não fazia ainda parte do nosso léxico).

Solidário e corajoso, Texas Jack, o meu (mítico) herói, tinha aquele belo rosto graficamente desenhado e, para mim, nada substituía a narrativa visual das suas ações. Eu entregava-me a uma leitura lúdica e a uma experiência única, sentimentos muito diferentes dos que resultavam da visualização dos westerns (“coboiadas”).

Prancha é prancha e película é película. Nesta ordem de ideias, lembro-me da desilusão que constituiu para mim ver o Tintin, o Astérix e o Obélix transpostos para os ecrãs do cinema com atores de carne e osso. Não é a mesma coisa.

Por isso, no meu imaginário, Texas Jack continua, graficamente através de vinhetas, balões, tiras e legendas, a sacar da sua Winchester, a dar cabo dos fora da lei e a montar o seu cavalo. Por entre nuvens de poeira.

 

     Victor Rui Dores







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